The Talk #9

     



     O meu queixo caiu de tal forma que fiz um mau jeito. A minha avó... Com Mercúrio... Juntos... Como um casal... A sério?! Até me belisquei na esperança de estar a sonhar. Não queria acreditar no que os meus ouvidos ouviram, juro. Fiquei perplexa a olhar para Mercúrio sem reação.  
- Luna? Luna? Alô? 
- Desculpa, ainda estou chocada. 
- Sabes que quando nos conhecemos ela não era tua avó, Luna. Passou imenso tempo - reforçou. 
- Sim, mas é tão difícil de... - atrapalhei-me. Mercúrio riu-se - Tu percebes.
- Claro...Mas não quero que isto mude a nossa relação.
      Sem ligar ao que ele disse pus-me a pensar alto - Então será que isso te faz meu avô? Oh meu Deus.
- Avô? O que se passa aqui? - perguntou a avó à entrada do alpendre.
- Oh não - sussurrei.
- Nada Mondy, estávamos apenas a falar das minhas histórias - respondeu Mercúrio numa tentativa de convencê-la.
- Hum... Luna?
- Sim! - disse apressada e nervosa.
- Está tudo bem? - perguntou.
- Sim avó, estou só com sono... - menti.
- Pronto. Podes ir ajudar Sol com as coisas? Ele não sabe nada daquilo e estou cansada demais hoje - explicou.
- Claro, claro! Vou já avó - disse enquanto me levantava.
      Pisquei o olho a Mercúrio antes de sair do alpendre e ele sorriu. Reparei que Mercúrio e avó ficaram a falar, mas não tive coragem de espreitar a conversa.
- Sol, sabias da avó e Mercúrio não sabias? - perguntei, já na cozinha.
- Claro Luna - respondeu.
- E não me contaste? - dei-lhe uma chapada no braço.
     Riu-se - Luna, o assunto não era meu. E aliás, sabes agora - explicou.
- Mesmo assim. - amuei.
- Da próxima, prometo que te conto - sorriu.
- Acho muito bem - falei.
      Alguns momentos depois, perguntei-lhe:
- Então que história foi aquela dos ciúmes, ontem?
       Ele encolheu os ombros e sorriu para mim.
- Hás vezes é preciso um pouco de imaginação.
      Sol acariciou-me o rosto e brincámos com a água do lavatório, enquanto estragávamos os pratos todos. A avó ia ficar fula, mas não me importei. Para que serve a fita cola afinal?
      Evitei passar pelo jardim porque sabia que a minha curiosidade iria mais longe e acabaria por espreitar a conversa entre Mercúrio e a avó. No entanto, quando passei pela porta da entrada do alpendre não consegui evitar.
- Mercúrio, o que lhe contaste? - perguntou a avó, nervosa.
- Mondy, contei o que tinha de ser contado - explicou.
- Não há nada para contar Mercúrio! - irritou-se.
- Mondy não faças isto, desta forma.
- Como queres que faça? Ela mais tarde ou mais cedo vai acabar por descobrir Mercúrio!
- Não vai não! Não há como - retorquiu.
- Ela não é burra Mercúrio...
- Mondy, ela não vai descobrir nada - e puxou a mão da avó para si. Avó logo puxou-a de volta.
- Espero bem que não - concluiu.
      O que será que vou acabar por descobrir? O que se terá passado entre eles? Isto está tão estranho, muito estranho mesmo. Fui ter com Sol no seu quarto e sentei-me na cama junto a ele para conversarmos.
- Sol, não digas nada ao Mercúrio ou à avó, mas ouvi um pouco da conversa deles - confessei.
- O que ouviste Luna? Sabes perfeitamente que não deves ouvir a conversa dos dois.
- Eu sei, mas estava tão curiosa.
- O que ouviste?
- Eles disseram qualquer coisa sobre descobrir algo... que eu não devia descobrir alguma coisa. Tem haver com eles os dois e comigo.
- Mas o que será? A tua avó sempre foi tão aberta contigo Luna.
- Eu sei, é por isso que tudo muito mais estranho. Nunca reparei em nada de estranho em todos estes anos Sol.
- Mas Luna... Também há a questão de: Queres mesmo descobrir essa tal coisa? Pode ser algo que te possas vir a arrepender e pode nem valer a pena.
- Não tinha pensado nisso, mas estou disposta a saber. Eu estou no meio dessa história toda, tenho o direito de saber o que se passou.
- Tens razão, e se precisares de mim é só chamares - sorriu e agarrou-me na mão.
- Eu sei, e obrigada - sorri.

      Apesar do drama todo que se tinha acabado de criar, Sol e eu estávamos no paraíso. Eu não sei que nome tem a nossa relação, mas é uma coisa boa. Estamos a conhecer-nos, e isso é o que importa.
A avó depois chamou-me para ir ter com ela no jardim, quando lá cheguei Mercúrio já não estava lá e eu não sabia como encarar a avó. Ela ia acabar por ler os meus pensamentos, eu sabia, e teria que confrontá-la.

- Luna vai vestir a roupa de treino por favor - pediu.
- Sim, vou agora - respondi.
- Luna? Espera - ordenou.
- O que se passa?
- Não te consigo ler - confessou.
- Mas eu não ando a treinar a barreira, nem sei como isso se faz - confessei.
- Será que é um dos teus poderes? Nunca ninguém conseguiu bloquear a mente como tu estás a bloquear.
- Avó, pode ser só a barreira...
- Não Luna. Quando é a barreira, nós sentimos especificamente uma barreira a bloquear o acesso à mente. Mas no teu caso - olhou para mim fascinada - a tua mente está em branco, literalmente.
- Bem, obrigada Lua - olhei para cima a sorrir.
      Fui para o quarto e no caminho dei de caras com Mercúrio. Não lhe dirigi a palavra para não começar a falar sem parar. Vesti as leggings e uma t-shirt, os ténis e fui ter com a avó para treinar-mos. A avó melhorou a forma como luta desde da última aula. Como é possível? Oh meu Deus.
     Nesta aula já melhorei um pouco, já não estava tão enferrujada como antes mas ainda tenho um grande caminho a percorrer. Apesar de todas as coisas más que podia acontecer na luta, vencer era a minha única prioridade, seguido de manter Sol vivo, claro.

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