The Rays of Light #14


3 dias depois

      Tenho andado de olho em cada movimento que Sol, Mercúrio e a avó fazem. Mas já passaram três dias, já começo a achar que a minha visão não significou nada...Ainda bem que ainda não contei nada a eles. Iam ficar ainda mais ralados.
      A noite estava escura, a Lua estava tapada por nuvens e eu estava cá fora, deitada no meio da relva. A noite estava agradável e a suave brisa permitia-nos levar o nosso pensamento para longe. Mas só conseguia pensar na minha visão. Só agradecia por já ninguém cá em casa não conseguir ler a minha mente. Até a avó já não consegue, andei a treinar a barreira despropósito por causa disto. E ela assim nem desconfia de nada.  
      Por agora, tudo tem andando bem, não há discussões, não há motivos para tal coisa. Mas Sol anda a desconfiar a minha desconfiança. Ando muito cuidadosa e preocupada nestes últimos dias, e graças à nossa Ligação, ele sente isso tudo também. Pergunta-me, sempre que tem oportunidade, se está tudo bem, e eu só posso dizer que sim. Não posso contar-lhe. Não agora. 
     Os meus pensamentos foram interrompidos com a chegada de Sol ao jardim. Só senti a sua presença quando ele se deitou ao meu lado e o seu calor aqueceu o meu corpo. Deitou-se, sem dizer nada, e agarrou delicadamente três dos meus dedos. Bastava-me a sua presença para me acalmar, e toda a preocupação que sentia em relação a este problema da visão desapareceu, por momentos. Ficámos longos minutos assim e logo coloquei a minha cabeça no seu tronco. 
- Luna, eu sei que não vais contar-me o que se passa. Mas quero que saibas que podes contar comigo - disse - para tudo - concluiu. 
- Eu sei. Desculpa - levantei a cabeça para olhá-lo nos olhos - e obrigada - soltei um curto sorriso e voltei à posição anterior.  
      Sol colocou os seus reconfortantes braços à minha volta e ficámos a olhar para as estrelas. Por fim, adormeci. Só me lembro de Sol estar a mexer no meu cabelo de forma carinhosa e de eu estar  a cair profundamente no sono. Ele deve ter-me levado para o quarto quando se apercebeu do meu estado.
- Bom dia dorminhoca.
- Mas quem - e abri os olhos e vi o perfeito rosto de Sol a sorrir para mim. -  Bom dia - sorri.
       Sol inclinou-se para me dar um beijo e afastei-me.
- Luna? - perguntou confuso.
- Desculpa, mau hálito - e tapei a boca com a mão.
- Não sejas tontinha - e tentou, em vão, tirar a mão.
- Não não. A sério, tu não queres experimentar.
     Sol riu-se alto de mim e eu fui a correr lavar os dentes e a cara. E ajeitar o cabelo, e a roupa, e colocar perfume e pronto, isso tudo.
      Sol continuava a rir-se.
- Estás a rir do quê? - questionei.
- De ti, não era preciso esse trabalho todo.
- Não vou ficar mal apresentada não é.
- Mas tu nunca estás mal apresentada, aliás - puxou-me para si - és melhor que apresentável.
      Dei-lhe um beijinho à esquimó e os nossos rostos estavam cada vez mais perto um do outro. Os nossos lábios encontraram-se e borboletas na minha barriga surgiram. Mais uma vez, rendi-me ele, como sempre faço e farei.



1 semana depois 


      Nada. Nada do que vi aconteceu. A minha visão não aconteceu. Será que era mesmo uma visão ou inventei? Mas como poderia eu ter inventado uma coisas destas? Sinceramente, já se passaram quase duas semanas desde que tive a visão e ela não se concretizou. Não é suposto ter uma visão e ela acontecer logo num futuro próximo? Tipo no dia seguinte ou assim? Ou estarei a ser apressada de mais? Este assunto já estava a irritar-me um bocadinho, mais vale deixá-lo de lado.
      Voltei a ter um sonho com Lua. Ela disse-me que tudo acontecia por alguma razão e que devia ter paciência. Obviamente que estava a falar da visão, mas no entanto, não vale a pena dar-lhe importância agora. Tenho de concentrar-me nos treinos, em encontrar os meus poderes, e em ser realmente capaz de vencer Tema junto com Sol.
      Ultimamente os raios de luz que Sol deixou no espaço estavam mais fracos. "Algo se passa" diz ele, mas eu penso que seja por eles estarem a perder energia.
- Luna, os meus raios não perdem energia. Se eu não perco energia, eles também não perdem - disse chateado.
- Mas Sol, e se..
- Mas nada Luna - interrompeu-me.
- Pronto...
- Não te zangues, é que isto nunca aconteceu e odeio não saber o porquê - explicou.
- Eu percebo. Se precisares de ajuda diz-me.
- Por acaso...
- Pronto, já cá faltava não é...
      Riu-se.
- Podes vir comigo ao espaço?
- Sol, tu sabes que não tenho poderes, não te posso ajudar em nada disso...
- Eu sei Luna, mas isso não te impede de me acompanhar ou impede?
- Bem, sendo assim, vou com todo o gosto - sorri.
- Então vamos agora? Gostava de resolver isto agora - confessou.
- Hum, não.
- Então?
- Já viste a minha roupa? Estou toda suada do treino Sol - disse.
      Ele ficou longos minutos a ponderar e finalmente disse:
 - Pronto, não te demores.
- Volto num piscar de olhos - dei-lhe um beijinho e fui directa para o duche.
      Vinte minutos depois apareci de novo no jardim.
- Já estou pronta!
- Cheiras tão bem.
      Sol agarrou na minha mão e fomos para o jardim. Num ápice um mar de luz invadiu o meu jardim e logo de seguida a minha casa. Surpreendi-me de novo com a beleza desta luz e rapidamente estava a voar pelas nuvens até ao espaço. A sensação era incrível. Sentia-me livre e feliz.
- Chegámos - disse Sol, feliz por voltar a casa.
- É ainda mais lindo do que me lembrava - disse baixinho.
- É sempre - Sol retorquiu e sorriu.
      Fomos para o local onde os seus raios estariam. Reparámos que estavam mais fracos, mas não conseguimos descobrir porquê.
- O que poderá ser Sol?
- Não sei Luna, sinceramente não sei - disse chateado.
- Ouve, iremos encontrar a solução - tentei, em vão, acalmá-lo.
- Mas eu preciso duma agora. Os planetas não podem simplesmente ficar sem Luz, Luna! - fiquei boquiaberta com o tom de voz de Sol - Desculpa Luna, não devia estar a descarregar em ti.
- Eu percebo Sol, mas tens de ter calma. - respondi séria.
- Eu sei - hesitou - é que... Como é que não consigo encontrar a razão disto?
- Não sabes tudo sobre tudo, é normal.  Eu também não sei, ninguém sabe. Mas hás-de descobrir, eu tenho a certeza - coloquei as mãos na cara dele e disse calmamente.
      Ele olhou para baixo e respirou fundo. Olhou-me finalmente - Desculpa.
- Já passou - sorri - Agora não fiques stressado outra vez, pode ser?
- Pode - soltou um sorriso e deu-me um beijo.
      Sol andou há volta dos raios para ver se encontrava alguma coisa e eu estava um pouco mais longe dele, devido ao poder dos raios ser tão forte. Comecei a dar uma olhadela pelo universo. Reparei que Plutão não estava no seu local.
- Sol? Sol, anda cá por favor! - gritei.
- O que se passa Luna? - perguntou preocupado.
- Estás a ver Plutão?
- O quê?
- Estás a ver Plutão? Plutão está aqui? O planeta, Sol! - perguntei stressada.
        Sol voou um pouco mais alto para ver os planetas todos, e reparou em algo.
- Então?
- Plutão não está cá, Luna.
- Então isso quer dizer que...
- Que o teu pai está na Terra - concluiu Sol. 

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