The Forbidden Kiss #23

      Tiago deixou a minha casa assim que Mercúrio e avó regressaram de um passeio. Nessa noite, ouvi a voz de Lua na minha cabeça, durante o meu sono. "Tem cuidado Luna. Protege-te. Segue o teu instinto e tudo correrá bem."  Isto era sobre a minha visão, sobre Tiago e Sol, tenho a certeza. Após ouvir a voz de Lua acordei ofegante e não consegui dormir mais. Só pensava. Mas eu tinha de acreditar em mim. Tenho de acreditar que vou sair desta trapalhada, tenho de seguir o meu instinto e não o coração. 
      Ainda não contei a avó sobre os meus poderes, a afinidade com o ar e as visões. Preciso mesmo de lhe dizer, pelo menos a afinidade.
     Com o passar dos dias, a minha relação com Tiago crescia, sem me aperceber. Ele aparecia e eu não tinha coragem de mandá-lo embora. Por muito errado que fosse, não parecia. Ele fazia lembrava-me de Sol, e eu não queria livrar-me disso, nunca irei querer. No entanto, parte dele, a parte misteriosa e totalmente sua, atraía-me. Não queria livrar-me disso também. 
     O sol brilhava pouco. Talvez pelas nuvens acinzentadas que percorrem o céu, talvez por Sol estar sem forças. 
      Tiago trouxe uma cesta castanha cheia de coisas boas para um piquenique combinado por nós, no parque perto da minha casa. Apesar do tempo não estar do melhor, o vento era pouco e estava agradável. 
     No caminho para lá, não houve constrangimento, apenas risos e uma boa conversa. 
     O parque totalmente vazio surpreendeu-me. Tiago indicou-me o caminho para o local do nosso lanche e preparámos tudo. Começámos a comer e continuámos a conversar. O seu riso era contagiante.  
- Foste tu que preparaste isto tudo? 
- Claro. Só te podia servir comida do melhor - soltou um sorriso de convencido. 
     Ri-me. Dei uma olhadela na cesta cheia de comida e peguei numa tosta de frango e num sumo. Tiago fez o mesmo e começámos a comer. Continuámos a conversar, por alguma razão existia sempre assunto entre nós. Ainda bem. Acho eu.
- Luna tens aí - apontou para o canto do meu lábio - uma coisinha - disse baixinho a apontar novamente.
- Hum?
      Tiago avançou na minha direção e ficámos muito, muito próximos. Olhámos-nos. O ar em mim desaparecera numa questão de segundos e tinha a certeza absoluta que estava mais vermelha que um tomate. Tiago desviou o seu olhar para o canto do meu lábio, que pelos vistos estava sujo de maionese, e limpou-o com o dedo. Depressa colocou o seu olhar no meu.
      Tinha de me afastar porém não queria. Queria ficar a olhar para aqueles brilhantes olhos azuis esverdeados para sempre. O olhar de Tiago prendia-me e eu não lutava para poder escapar, eu gostava de estar presa por ele.
      Suavemente, as suas mãos tocaram na minha cara. Tiago acariciou-a com o polegar e inclinou-se para me beijar. Não o impedi, mas também não o encarei de boa vontade. No entanto, quando os seus lábios tocaram nos meus senti-me viva de novo. Tiago dava-me a possibilidade de esquecer Sol. Por momentos, eu realmente pensei que Tiago e eu podíamos resultar; E depois a realidade atingiu-me com uma força sobrenatural. Eu estava ali, a beijar o rapaz que irá dar cabo de mim e de Sol e mesmo ao saber isso, continuava num mundo cego e apaixonado. Apaixonada? Por Tiago? Impossível. Não podia ser.
      Tiago soltou os seus lábios dos meus e sorriu. O meu sorriso, em retorno, saiu automaticamente, ignorando cada pensamento meu de isto ser um erro, apesar de o saber melhor que a tabuada. Ele voltou para o seu lugar, a sorrir e com os olhos postos em mim. Começou a falar de algo, mas eu não prestei muita atenção. Estava demasiado ocupada a pensar nas consequências da minha enorme burrice e o quão bom era o seu beijo. Estas contradições na minha cabeça formavam tornados que misturavam sentimentos, e o resultado não era bom. Nada bom.
- Terra chama Luna - Tiago disse.
- Sim? - tentei responder normalmente.
- Estás a ouvir o que estou a dizer?
- Hum, não... Desculpa. Distraí-me - curvei os lábios um pouco envergonhada.
- Não faz mal - soltou um sorriso carinhoso.
- Mas o que estavas a dizer, já agora?
- Oh, não era nada. Esquece - encolheu os ombros. Parecia perturbado.
- Diz-me - aproximei-me dele automaticamente e coloquei a minha mãe no seu braço.
     Olhou-me, hesitou e finalmente respondeu-me - Estava a perguntar-te se querias ir dar um passeio por aqui. Já que o parque está vazio.
     Não hesitei - Claro, vamos - e respondi esta estupidez.
     O que teria eu na cabeça?
     Tiago pegou na minha mão, sempre com o seu sorriso brilhante e perfeito, levantou-se e ajudou-me a levantar. Sem largar a minha mão, conduzia-me o caminho, sem pressa, aproveitando cada instante. Não falámos muito. Deixámos o silêncio acolher-nos e enquanto isso, pensávamos em potenciais assuntos. Um deles obviamente que seria o maior erro da minha vida, que acabou de acontecer há um minuto: o nosso beijo.
- Não te importaste, pois não? - Tiago lançou.
- Com o quê?
- Oh, tu sabes, - encolheu os ombros, encarei-o - o beijo - olhou-me.
     A sua pergunta apanhou-me de surpresa. O que era suposto responder? Sim? Não? Estaria a mentir se respondesse qualquer uma delas.
- Não. Não me importei - disse, desviando o olhar dele.
- Passa-se algo?
- Não, porque haveria? - continuei com o meu olhar longe do dele.
- Nada - largou a minha mão, lentamente.
     Confusa com o ato dele, parei-o. Coloquei-me à sua frente, e fiz-lhe má cara. Trata-me bem e de repente amua?
- Tiago, o que se passa?  - olhava para cima ou para os lados, nunca nos meus olhos. - Diz-me.
     Hesitou. E quando já estava farta de esperar e pronta para voltar para o lugar do piquenique, Tiago agarra-me no braço e puxa-me para perto dele, mesmo muito perto.
- Vais dizer-me o que se passa agora? - perguntei, baixinho, quase sem ar nos meus pulmões.
- Às vezes falas de mais, sabias? - olhou-me sério.
      Assenti em resposta. Riu-se.
- Estás a rir do quê? - fiz má cara e afastei-me dele toda teimosa.
- Desculpa - sorriu. Puxou-me para si de novo, colocou as suas mãos a minhas bochechas e inclinou-se para me beijar.
     Não podia deixar isto acontecer de novo, não podia. Lua, ajuda-me, por favor - Implorei.
Quando os seus lábios se encontravam a milímetro do meu, uma rajada de vento veio de encontro a nós. Afastou Tiago de mim numa força brutal, mas sem magoá-lo ou a mim. Obrigada, Lua - agradeci. Depois de Tiago recuperar do choque, comecei a andar para o lugar do piquenique. Seguiu-me sem questionar.
- Podemos ir embora? - perguntei com receio da sua resposta.
- Claro - brindou-me com um sorriso amável.
- Obrigada.
     Arrumámos tudo, e ele levou-me a casa. Estava pronta para me despedir dele quando a avó intervém.
- Tiago! Olá - e cumprimenta-o.
- Olá Mondy, como está? - sorriu-lhe.
- Bem, e tu?
- Também - respondeu avó.
- Hum, avó, o Tiago estava de saída.
- Não sejas antipática, Luna - retorquiu avó.
     Tiago soltou um riso - Por acaso, estava de saída, sim.
 - Oh, mas que pena... - disse avó - Hum.. Não queres ficar para jantar?
     Eu e ele trocámos olhares. Só queria que ele respondesse não.
 - Vá lá querido, janta connosco - insistiu.
 - Já que insiste - encolheu e sorriu ansioso para mim.
      Oh bolas. Vai ser uma noite linda. 

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