Forgiveness, Love and Pleasure #30



Sol 



     Sol estava inquieto, claramente perturbado e chocado.
     Mas como?, pensava.
     Nada lhe parecia fazer sentido, mas tinha a certeza de que este fulano era o seu inimigo, Tema. A Lua até lhe confirmou. Só podia ser verdade. 
     Sol levantou-se e voltou para a mesa. Sentou-se no seu lugar, calmo, e enfrentou todos os olhares. Soltou um sorriso charmoso e explicou-se. Explicou o suficiente para se calarem e não fazerem mais perguntas.    
- Desculpem ter saído da mesa desta forma. Senti-me mal disposto. 
- Não faz mal, meu querido. Desde que estejas bem - falou Vénus, chegando-se a ele. 
     Luna olhou-o duvidosa e obviamente que não acreditou no que ele disse. Quando Vénus se chegou a ele sentiu-se definitivamente mal disposto. Estava farto e ela apareceu logo agora. Suspirou, largou-se de Vénus subtilmente e continuou o seu jantar com os olhos postos em Tiago. 
     Vénus nem reparara que Sol nem lhe estava a ligar alguma, quanto mais Mercúrio ou Mondy. Mas Plutão reparou. Pelo canto do olho, Sol conseguiu ver o olhar questionador e perspicaz de Plutão em si. Luna dizia-lhe, através da Ligação, para parar de olhar o convidado e continuar normal, ou pelo menos fingir. Sol não ligou a nenhum dos dois, estava demasiado ocupado a tentar encontrar vestígios, para além dos olhos, de que Tiago era realmente Tema. Personalidade? Se for, está muito bem escondida. Gestos? Nada de invulgar. Marcas? Se houvessem, a sua roupa ou falsa pele tapavam. Sol sentia-se frustrado e culpado. Se não tivesse ido embora este Tiago, Tema, não teria vindo atrás de Luna. Sol teria-a protegido. Mas foi. Foi por uma boa causa. A felicidade da Luna é uma boa causa, pensou, justificando-se.
     Por mais que Luna lhe dissesse para estar quieto e agir normal, Sol não lhe ligava. Deixa-me, Luna - dizia-lhe.
     Então pára de olhar o Tiago dessa forma! Estás a ser um idiota - Luna respondia. 
     Quando decidiram buscar as sobremesas, Luna literalmente obrigou Sol a ir com ela para a cozinha. 
- Ouve, Sol, o que raio se passa contigo? - sussurrou, para que ninguém ouvisse.
Suspirou - Nada, Luna. 
- Nada? Como nada? Saíste do jantar duma forma super esquisita e agora estás a lançar estes olhares ao Tiago super esquisitos. 
- Explico-te mais tarde. Tens de confiar em mim. Tens de acreditar em mim, está bem? 
     Luna olhou nos seus olhos e Sol percebeu que a perdoou. Sol perdoou-a e esqueceu o erro de Luna. Os ombros dela caíram como se tivesse acalmado, o seu olhar azul fitou-o esperançosa.
- Está bem.
     Ambos não conseguiam desviar o olhar um do outro, mas Sol teve de tomar atenção ao seu oponente.
     Tiago agia normalmente, como se Sol nem existisse ou como se a sua presença fosse apenas passageira, como uma brisa. Sol até preferia assim. Se Tiago não notasse nele, talvez não iria reparar que Sol já o tinha descoberto. Após a sobremesa, Tiago arrastou Luna para o jardim. Não vou deixá-la sozinha com aquele monstro - pensou, e agiu mais rápido que um piscar de olhos. Entrou pelo jardim adentro, à procura de Luna e Tiago estava a aproximar-se dela. Sol sentiu o nervosismo e o medo de Luna e logo a chamou.
- Luna!
     Tiago e Luna olharam-no: Luna aliviada e Tiago irritado.
- A Mondy precisa de ti - inventou.
- Obrigada, vou já. - E começou a ir-se embora, em direção à cozinha.
     Sol fixou-se em Tiago assim que Luna saiu do jardim. Começou a andar em direção a ele, pronto para lhe lançar uma ameaça ou contar-lhe que já sabe quem ele realmente é. Mas Tiago antecipou-se.
- Vamos pular a parte em que dizes que já sabes quem eu sou, Sol - falou e soltou um sorriso arrogante. Os seus olhos encadearam-se num tom azul gelo, e qualquer fio de simpatia que ele pudesse ter, desapareceram. O sorriso, arrogante e maléfico fez com que Sol voltasse ao momento em que Tema estava prestes a matá-lo. Sol só o conseguia encarar com um olhar surpreendido.
- Ora, estavas mesmo à espera que eu ficasse sentado à espera que voltasses com um poder novo para me derrotar? - riu-se e proximou-se de Sol - A diversão está toda aqui, neste pequenino planeta que eu irei roubar - hesitou, à procura da palavra apropriada  - ou melhor, ganhar, de ti.
     O rosto de Tiago desapareceu dando lugar ao rosto longo de maçãs suavemente angulosas com um nariz direito e uma larga testa.
- Afasta-te da Luna, Tema.
- Já estava à espera que dissesses isso, mas não. Não me vou afastar.
- A tua luta não é com ela.
- Mas eu não estou a lutar com ela, estou a conquistá-la - Tema aproximou-se. - Estou a conquistá-la duma forma que nem tu consegues.
     Foi a vez de Sol se rir, e  por conseguinte, o semblante de Tema mudou.
- Estás mesmo há espera que ela se deixe conquistar por esse monte de maldade e lixo? Se pensas assim, força. Te garanto que nem um pedaço dela irás conquistar.
- Isso é o que iremos ver, Sol. - Tema afastou-se e saiu do jardim, deixando Sol incerto do coração de Luna.



Luna 



     Talvez ter deixado Sol e Tiago juntos no jardim não fora boa ideia. Mas Sol não iria atacá-lo com bolas de fogo... penso eu.
     Obviamente que a cena de ele dizer que "A Mondy precisa de ti na cozinha" era tudo treta, mas Tiago estava prestes a beijar-me e isso não podia acontecer de novo. Ainda por cima agora que tive a sensação de que Sol me tinha perdoado. Quando fomos para a cozinha, os dois, e Sol me olhou com aqueles maravilhosos olhos âmbar, podia jurar que neles só havia amor e perdão. Mas se calhar foi só o meu coração a querer demais. 
     Esperei por um deles na sala e Tiago logo apareceu. Trazia o seu sorriso adorável e vinha a mexer no cabelo. 
- Então, falaram de alguma coisa? 
- Hum, não. Ele só disse para vir ter contigo - disse enquanto se sentava ao meu lado. 
- Está bem... 
     O meu pai não parava de olhar para Tiago. O que raio se passa com esta gente? Tentei ignorar mas parecia que os olhares afetavam mais a mim do que propriamente Tiago. Só queria que este jantar acabasse. 
- Luna, acho que já está na hora de ir-me embora - murmurou Tiago ao meu ouvido.
      Levantou-se, despediu-se e agradeceu a toda a gente pelo jantar e eu acompanhei-o à porta. Sol apareceu e ficou a encarar-nos do sofá. 
Despedi-me dele com um beijo na bochecha e fui para o meu quarto. Sol seguiu-me. Deixei a porta aberta e caminhei para a cama, deixei que Sol fechasse a porta. 
- Vais explicar-me o que se passou contigo hoje. 
- Tu não vais acreditar no que te vou dizer, Luna. 
- Tenta-me - encarei-o. 
- Mas primeiro - Sol aproximou-se de mim, ficámos a um milímetro de distância, e o seu calor invadiu-me. Não consegui conter o sorriso. Tenho tantas saudades dele. Sorriu-me. 
- Voltaste? - questionei, mais para mim do que para ele. Coloquei as minhas mãos no seu rosto. - Voltaste para mim? Desculpa Sol, desculpa. - Fitei-o. 
- Não vamos pensar mais nisso, está bem? - pousou as suas mãos no meu rosto e encarou-me. Assenti. 
Sol aproximou-se e beijou-me. Beijou-me apaixonadamente e com saudade, um beijo intenso que me deixou ofegante, desejosa de mais. As suas mãos percorriam o meu corpo cuidadosamente e eu só pensava nele, no quanto tinha sentido falta do seu beijo, do seu calor, do seu amor por mim. O meu vestido já tinha desaparecido do meu corpo que estava coberto pelo dele. Senti Sol como nunca sentira antes. Os nossos corpos envolveram-se e tornámos-no um. A nossa Ligação ficou mais forte. Entregámos-nos um ao outro por inteiro. O calor de Sol dominou-me, o prazer e o amor abraçaram-nos durante a noite inteira, sem remorsos, dor ou angústia.

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