The Sandstorm #47



Luna 

 

     Estávamos todos alinhados em linha reta, de mãos dadas, e com um medo a possuir-nos por completo. A tempestade iria engolir-nos e girar-nos inúmeras vezes. 
- Preparem-se! - Sol gritou. 
     Não o encarei, em contrapartida agarrei com força a mão dele. Ele respondeu-me da mesma forma. 
     A tempestade estava a 20 metros de nós. A cada segundo que passava, a distancia entre o monstro de areia e nós, encurtava para 15, 10 e finalmente 5 metros. O meu corpo começou a tremer, os meus joelhos a ceder. 
- Esperem mais um pouco... - Sol murmurou. 
- Sol, por favor! Tira-nos daqui! - Implorei. 
- Calma... 
     A onda de areia elevou-se a altitudes gigantescas e cobriu-nos. Fomos sugados pela sua força. 
- Não se separem! Agarrem-se, com força! - Sol gritava. 
     Os meus olhos teimavam em estarem fechados. A minha mão começaram a soltar-se da de Sol e da do meu pai. A areia envolvia-nos com uma força sobrenatural e fazia-nos rodopiar vezes sem conta. Estávamos presos. 
- Luna! Ar! - Sol gritou por entre o ruído que o monstro fazia. 
     Não percebi o que ele dissera a principio, mas depois concentrei-me e reuni todas as minhas forças no meu tronco e cabeça. 
- Ar! - Gritei. 
     Um tornado de ar limpo abriu-se desde Mercúrio até Sol. 
     Sol apertou a minha mão e de seguida invocou uma luz dourada. 
- Mercúrio! Plutão! Agora! 
    A luz que Sol invocara agora misturava-se com uma de tom cinzento e outra de tom laranja. As luzes circulavam entre nós e eu finalmente abri os olhos por completo. Assim, consegui ver a palete de cores à nossa volta. Porém, não durou muito. O gigante monstro de areia atacou-nos de novo. Desta vez com mais força e com mais raiva. Os meus olhos fecharam-se e a minha mão largou-se da de Sol. 
- Sol! Não! 
  Vi-o já com os olhos âmbares postos em mim.
  Eu encontro-te, Luna. Sempre - ouvi-o sussurrar dentro de mim e um pânico tomou conta do meu corpo.
     Sol foi sugado por uma corrente e outra embateu contra nós, colocando uma distância indefinida entre mim e Sol. Fechei os olhos e agarrei-me à mão do meu pai com força. Rodopiámos e rodopiámos até sermos sugados para baixo. Fomos projetados para o chão, batemos contra algo forte, ouvi ruídos de rochas a caírem e depois vi tudo negro.




Tema 



     Vénus partira sem deixar qualquer rasto. Tema sabia de onde vinha esta reação, mas no fundo não compreendia o porquê de ter partido, de tê-lo deixado sozinho de novo... Ele não a foi procurar. Desta vez o seu orgulho encurralava-o como um pássaro numa gaiola. E ele sabia que somente Vénus o poderia libertar. Somente ela tinha a chave para todos os seus problemas.
     Tema na manhã seguinte à partida da Vénus decidiu voltar à sua galáxia. Ele não ia conseguir entrar na parte subterrânea de Marte sem ajuda. Então vestiu-se numas calças de ganga pretas e uma t-shirt, de mangas enroladas para cima, branca, comeu e envolveu-se numa luz azul esbranquiçada que o levou até à sua suposta casa. 





     Tema não demorou muito a encontrar o seu parceiro. Caminhou pela casa, que estava tal e qual como a tinha deixado da última vez que lá estivera, e sentou-se na cama à espera dele.  
     Passados poucos minutos, um homem de estrutura alta e magra entrou no seu quarto. O sorriso nos seus lábios finos erguia-se de orelha a orelha e fez Tema sorrir também. 
- Noir - Tema agarrou numa das mãos de Noir para cumprimentá-lo e sem largar, abraçou-o. 
  Noir deu-lhe leves palmadas nas costas enquanto o abraçava de volta. 
- Por onde tens andando? Andaste desaparecido nos últimos meses. 
     O ambiente escuro do quarto de Tema fez sobressair a cor preta dos seus olhos, o cabelo ruivo e curto e a  pele clara coberta de sardas de Noir. Assim como Tema, também trazia vestido umas calças de ganga pretas, no entanto, a t-shirt era escura e um casaco de cabedal cobria os seus braços, ombros e costas.
     Tema contou-lhe o mais resumidamente possível o que aconteceu nos últimos meses e o motivo de tê-lo chamado à sua casa.  
- Alinhas? 
- Deixa-me ver... Corro o risco de morrer numa tempestade de areia e num labirinto subterrâneo - Noir ia numerando as consequências negativas, que lhe ia surgindo na cabeça, com os dedos. - Para não falar do monte de Planetas que vão querer matar-me, incluindo a tua namorada, hum, não tens muitos pontos a teu favor sabes.
     A cara inexpressiva de Noir deixou Tema receoso. Realmente, era uma proposta pouco tentadora. Tema iria desistir de pedir ajuda a Noir até que ele esboçou um sorriso divertido. 
- Claro que alinho - Noir ergueu a mão para Tema a agarrar para selar o compromisso deles.
     O olhar de Tema passou a ser confiante e viu um futuro a seu favor a passar pelos olhos. Ele sorriu como se a vitória estivesse no papo. Com as mãos ainda unidas, as luzes transportadoras de Noir e Tema uniram-se e formaram um tom azul escuro. 
- Vamos para Marte.
     E desapareceram.



 Sol 


     Uma dor forte vindo da sua cabeça e do seu braço direito despertou Sol. Os seus olhos abriram e encontraram um local escuro, apenas iluminado por uma longa e estreita fenda a uns 4 metros de si. Ao levantar-se, sentiu ainda mais dores. 
- Está quieto. 
     Sol não se tinha apercebido da presença de Vénus até ela falar. Escondia o rosto com o cabelo ruivo e estava de pé a fazer qualquer coisa. Sol mexeu-se. 
- Já te disse para estares quieto - a voz dela estava controlada mas tinha poder. Sol encostou-se a uma parede. Soltou uma careta de dor e um suspiro e ficou quieto. 
- O que estás aqui a fazer, Vénus? 
- O que estás tu aqui a fazer, Sol? 
     Ele estava demasiado cansado para mentir-lhe, inventar uma desculpa, portanto disse-lhe a verdade.
- Vim impedir que o teu namorado roube a Pedra da tua irmã... primeiro que eu. - ela nada disse. Acrescentou - Então e tu, o que estás a aqui a fazer? 
- Vim impedir o meu namorado e tu de roubar a Pedra da minha Irmã. 
     Vénus caminhou até Sol e levou uma camada prateada nas suas mãos. Sol conseguiu ver que os olhos dela estavam vermelhos, talvez de estar a chorar, talvez de uma irritação alérgica. Vénus nunca foi fã de pó e sujeira. No entanto, ele não lhe fez perguntas sobre isso. 
- Tens de ficar quieto, se não não te vou poder curar decentemente. 
     Sol assentiu e permaneceu quieto. A camada que pairava entre as mãos de Vénus brilhou e tornou-se clara. Ela passou essa camada - que agora parecia água - no corte do braço dele e logo um alívio se alastrou pelo corpo de Sol. Ele curvou os lábios num sorriso relaxante. Sentia-se quase a setenta e cinco por cento. Os outros quinze que o impediam de estar a cem deviam-se à dor de cabeça e a agonia de não sentir Luna pela sua Ligação.
     Assim que Vénus terminou a primeira sessão de cura nele, Sol levantou-se e Vénus lançou-lhe um olhar interrogativo. 
- O que pensas que estás a fazer, Sol? 
- Vens ou não? 
- Tens de descansar mais um pouco.
- Ouve, a Luna está algures neste sítio e precisa de mim. 
- Ela bem que precisa de aprender a lidar com as coisas sozinha, não achas? E aliás, não te safas neste sítio sem mim. 
     Sol passou a mão pelo cabelo sujo de areia e encarou a Vénus. A sua única hipótese era confiar nela porque no estado em que estava, não era capaz de prosseguir sozinho. Ele encostou-se à parede. Vénus sorriu satisfeita. 
- Agora vamos lá falar dessa Pedra. 

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