Underneath: Qaya #30

     Catarina acordou na sua cama com o primeiro sinal de luz a raiar pelo vidro da sua janela. Sentiu uma dor no braço como se os músculos estivessem doridos após uma sessão de treino. Levantou-se e ouviu o som do tecido relembrar-lhe o que tinha acontecido. Troy mandara-a para a Terra. Ela estava em casa.
     Catarina levantou-se e dirigiu-se para a casa de banho onde tomou um demorado banho. Ela queria relaxar mas os mesmos pensamentos dançavam na sua cabeça e começavam a deixá-la tonta. Sentia-se chateada, triste, revoltada principalmente e não conseguia encontrar uma razão plausível para a atitude dele. A não ser que ele tenha agido por impulso e por motivos que ela desconhecia. Talvez ele estivesse a ficar farto da presença dela e sentia-se obrigado a cuidar dela. Mas Catarina não precisava que ele cuidasse dela a toda a hora. Ela consegue defender-se. E se fosse essa parte da razão, se calhar Ryan deveria ter vindo com ela para a Terra. E visto que ele não veio talvez estivesse a analisar os motivos errados e... Só um motivo restava. Só uma pessoa restava. Aquela que Troy protege sem sequer piscar os olhos ou pensar duas vezes. Como se sentia burra! Catarina bateu com as mãos na água que salpicou-lhe na cara e no chão. Sentia tanta raiva agora. Troy tinha-a deixado por outra rapariga que conheceu faz um mês! Como é que ela não tinha percebido?... Claro que ele ia ao auxílio dela sempre que era necessário mas Catarina pensou que eles eram apenas amigos e entendiam-se por causa dos poderes e do mundo que partilhavam. Mas aquela vez em que a Silver arriscou a vida dela... Ela não se esqueceu de como ele ficou. Troy ficou tão chateado e com uma preocupação terrível espetada no rosto... Para não falar quando Kade quase a magoou à frente do grupo. Tudo começava a fazer sentido. 
     Troy gostava de Violet. Mas... Ele não mudou perto de mim, pensou ela. Talvez um pouco mais ausente, mas ele tinha muito em que pensar dado as circunstâncias. Ela não conseguia perceber. Catarina afundou-se mais na banheira de modo a ficar só com um pouco do pescoço e a cabeça à tona. Violet também mal ficava perto dele e ela nunca interpretou os gestos dela de forma romântica. Como é que isto aconteceu mesmo à frente dos seus olhos? Se calhar podia estar a imaginar mas os sinais apontavam todos para...
     Bateram à porta. 
- Catarina Serra da Silva, és tu? 
     A mãe tinha acordado e ela já conseguia ouvir o sermão na sua cabeça. 
- Sim. 
- Onde estivestes a noite toda? Fartei-me de ligar à Charlotte e à Blair e nada! Podes explicar-me o que aconteceu? 
     Ela saiu da banheira e deixou a água escorrer pelo cano abaixo. Colocou uma toalha à volta do corpo e enfrentou a mãe. 
- Nós estivemos na praia. Desculpa não te ter avisado mas fiquei sem bateria no telemóvel. O Ryan e o Troy quiseram acampar lá durante a noite. 
- Custava-te muito usar o telefone dos rapazes ou eles tinham pouca bateria também? 
- Não me lembrei. Desculpa. Posso ir dormir? 
- Sim - disse, depois de deliberar durante uns minutos. - Se quiseres comer qualquer coisa à sobras no frigorífico. 
- Está bem - beijou-lhe a bochecha e encaminhou-se para o quarto.
- Que isto não volte a repetir!
- Está bem - respondeu, já com a porta atrás de si fechada.
     Ela deitou-se na cama. Olhou para a janela e a Lua ainda nem tinha saído do seu lugar no céu. Brilhava e fazia parecer que tudo estava normal. Só que não estava.

     Catarina acordou com a cabeça pesada. Os olhos teimavam em permanecer fechados quando a mente já estava desperta. Ainda assim, levantou-se e vestiu os seus calções preferidos e um top preto com detalhes. Tinha adormecido com a toalha à volta do corpo e por isso a sua cama estava molhada. O vestido azul estava caído ao pé da cama e ela mal conseguia olhar para ele. Pegou nele e enfiou-o dentro do armário, com os sentimentos de ontem na sua pele. Desceu para comer qualquer coisa e saiu de casa de caminho até à casa dos Evans.
     Charlotte atendeu-a à porta com o robe vestido e uma cara de sono terrível. Dava a sensação de que não tinha dormido a noite toda e quando viu o rosto da Catarina ficou aliviada. Catarina entrou em casa e depois de Steve descer contou-lhes tudo o que aconteceu.
- Quer dizer então que o Troy está na galáxia do tal Tema?
- Sim - respondeu.
- Quando é que ele volta?
- Não sei. Aconteceu muita coisa nestes últimos dias... O Troy ainda tem de acabar com a tal maldição que o Noir lhe lançou.
- Mas se a maldição acontecer mesmo, isso não quer dizer que eles têm agora pouco tempo? Já passou uma semana na galáxia e mesmo que aqui tenha passado um dia, talvez o tempo de lá é que conte - pensou Charlotte.
- Se for esse o caso, não sei como é que as coisas vão correr. 


◄◊►



- Tens a certeza? 
- Absoluta - Axel garantiu. 
     Melody levou à boca a pequenina ave que ele tinha assado na fogueira. Deu uma dentada um pouco receosa e o sabor surpreendeu-a bastante. O saber era semelhante ao do frango. 
- Que tal? 
- Falta um pouco de sal mas fora disso está perfeito. 
- Então, Ryan? Gostas? 
- Sim - respondeu, sem muito interesse. 
- O Kade e a...
- Rouge - disse Violet, baixinho. 
- O Kade e a Rouge não vêm comer? - perguntou Troy. 
- Aqui estamos, loirinho - disse-lhe Kade. - Já tinhas saudades minhas? 
     Troy sorriu ligeiramente sem saber exactamente o que responder e continuou a comer. 
     Estava um dia bonito, mais fresco e por isso muito mais agradável. A fogueira emanava um calor mais fraco e o cheiro a comida assada pairava no ar. A seguir, todos iriam para a cascata e Troy estava especialmente ansioso. Já não via água no seu estado natural à demasiado tempo e tinha saudades. Queria surfar mas não havia um mar para isso ou uma prancha sequer. Mas, apesar disso, ir até à cascata era o seu único e bem vindo pensamento. 

     Melody mostrou o caminho até à cascata. Axel esboçava um sorriso que apenas Ryan achou ser irritante e presunçoso. Quando chegaram lá, porém, ele esqueceu-se de Axel e dos seus sorrisos e tirou a t-shirt mergulhando na água fresca e limpa. Troy seguiu o exemplo. As gémeas saltaram dumas rochas acima da cascata e Axel estava constantemente a ameaçá-las para saltarem senão ele as empurraria. Kade e Rouge juntaram-se ao grupo durante alguns momentos mas depois ficaram fechados numa bolha que os separou de tudo o que os rodeava. Troy nunca tinha visto um casal tão íntimo e apaixonado. Talvez os pais das gémeas pudessem competir nessa categoria mas, naquele momento, Kade e Rouge pareciam um exemplo vivo do casal perfeito. 
     Com a tarde a passar, aquela cascata passou a ter um significado de pura diversão para Troy que para sempre iria associar esse sentimento ao local. Axel integrou-se no grupo dos quatro muito facilmente e a Estrela começou a dar uma chance para os forasteiros. Melody e Axel pareciam já entender-se bem o que ajudava. A meio da tarde, o grupo aventurou-se na gruta. Eles caminharam de mão em mão pelas rochas. O cheiro da pedra molhada era tão reconfortante que Troy queria passar o resto do dia lá dentro. A uma certa altura, Ryan começou a reclamar e a resmungar sem razão aparente. Troy deu-lhe uma cotovelada. 
- O que se passa, Bennett? - Ele ignorou a pergunta. - Bennett? 
- Não achas que a Melody anda a dar muitas confianças ao rapaz? Afinal de contas não o conhecemos assim tão bem. 
- Andaste na Lua durante a tarde inteira? O Axel é porreiro. De certeza que ele safar-se-ia super bem com uma prancha debaixo daqueles pés enormes - comentou. 
     Ryan olhou para Troy com uma expressão enjoada. Troy nem reparou. 
- Troy! Despacha-te - gritou-lhe Violet. 
- Anda, Bennett. Daqui a nada não vemos um raio de luz. 
     Eles foram atrás do grupo e Troy deu a mão a Violet. 
- Estou aqui. O que é eu perdi? 
- Hmm, o Axel acabou de dizer que descobriu uns minerais raros alguns anos atrás - disse ela, a tentar desviar a sua atenção da mão de Troy na sua. Ela agarrou a mão solta da irmã. 
- Chegámos - Axel declarou. 
     Um clarão de luz quase cegou Violet, Troy e Ryan. Uma abertura mais ou menos quadrangular dava acesso a um lago rodeado por rochas e era totalmente iluminado pela luz que vinha de cima. As rochas eram imensamente compridas como torres e o lago era duma cor esverdeada e cristalina. Vários peixes nadavam naquelas águas. Cada um mais excêntrico e único que o outro mas não menos bonito. No cimo das rochas era possível ver algumas plantas a quererem a atenção da luz e quase todas formavam flor. Do lado oposto de onde estavam era possível ver que havia uma subida de relevo onde alguma areia residia. O lago era rodeado por rochas e areia molhada. O grupo com cuidado avançou até à zona mais larga de areia. Sentaram-se e ficaram a apreciar a bela vista.
      Axel começou a puxar Melody para o lago e ela conseguiu dar-lhe grande luta até ele pegá-la ao colo. Axel entrou na água com ela nos braços e ambos mergulharam. Melody tinha-se libertado dos braços dele. Ele riu-se da cara de chateada dela. 
- Venham! Debaixo à um acesso a outra lagoa maior - disse ele, a colocar o cabelo para trás. 
- Vamos! - exclamou Troy. Ia a meio do caminho quando percebeu que Violet e Ryan não se mexiam. - O que se passa? 
- Estou cansado - respondeu Bennett. 
- Violet? - Troy inclinou a cara para o lado. Ela desviou o olhar. Ele aproximou-se, pondo-se de cócoras ao pé dela. - Bennett, tu podes ir andando para lá antes que eu te arraste - disse Troy. - E tu, o que se passa? Não vais perder a chance de nadar com aqueles peixes todos entre nós, pois não?
     Ela olhou para as mãos e mordeu o lábio muito subtilmente.
- Vai, Troy. Vais adorar. Eu fico aqui à vossa espera.
- Sozinha? Nem pensar. Anda - ele pegou na mão dela. - Não aceito um não como resposta - e lançou-lhe um olhar que ela não conseguia recusar, apesar de hesitar.
- Troy... - chamou-o, nervosa, mas lá foi com ele para a água.
    Ele largou a mão dela e atirou-lhe água. Violet ficou atordoada pelo choque do quente do seu corpo com a frieza da água mas logo entrou no lago e vingou-se. Mergulhou e Troy seguiu-a depois de verificar que Ryan estava no lago. Para a sua surpresa, o seu melhor amigo já estava a acompanhar Melody e Axel.
- Eu não sei se vocês vão conseguir conter a respiração o suficiente para atravessar - admitiu Axel.
- Não há problema - disseram Violet e Troy ao mesmo tempo.
- Posso tentar criar uma bolha com ar à nossa volta.
- Já me tinha esquecido que vocês eram todos mágicos. Então, vamos. Façam lá o vosso perlimpimpim.
- Recria os meus passos, está bem?
- Sim - respondeu-lhe Troy.
     Violet ergueu os braços com as palmas para dentro. Ao erguê-los, um bolha começou a surgir que ela direccionou para a irmã e Axel. Os dois ficaram envolvidos no que parecia ser mesmo uma bolha reluzente de sabão e quando mergulharam, Axel gritou "Funciona!". Troy tentou e falhou nas primeiras vezes. As suas bolhas pareciam rebentar sempre que tentava fazê-las grandes. Violet colocou-se à frente dele e ajudou-o. O resultado foi uma bolha suficientemente grande para os dois mais o Ryan.
- Acho que prefiro a minha própria bolha - disse.
- Tens a certeza?
- Sim, absoluta.

     O grupo desceu no lago e Troy surpreendeu-se pela profundidade. A bolha à volta deles a conceder-lhes ar ajudava imenso pois conseguiam respirar e manter os olhos abertos durante muito mais tempo. A vida debaixo de água era surpreendente. As algas longuíssimas e ondulantes, os corais multi-coloridos e vibrantes e a variedade de peixes e animais era incrível. Vários peixes circulavam as bolhas do grupo e todos, sem excepção, esticavam o braço para poder tocá-los sem sucesso. Um cardume de peixes laranja néon passou por eles e Troy mal podia acreditar no que os seus olhos viam. Com o lago a ficar mais escuro, a vida debaixo de água ficava mais brilhante. Os corais ganhavam uma vivacidade electrizante enquanto que os peixes emanavam luzes de inúmeras formas.
- Estamos a ultrapassar as rochas todas que cercam o lago deste lado. Quando ficar totalmente escuro, é porque chegámos - avisou Axel.
     Eles continuaram a nadar e a fotografar com os olhos aquele ambiente todo. Parecia ter saído dum filme.
     A quantidade de peixes, plantas e corais ia diminuindo à medida que iam avançando visto que a luz começava a desaparecer por completo. Uns segundos depois o grupo estava penetrado numa Escuridão plena. Troy agarrou o antebraço da Violet sem um segundo pensamento. Só queria ter a certeza de que ele não estava sozinho.
- Estamos quase a chegar, olha - disse-lhe ela.
     Troy concentrou o olhar e viu o que pareceu ser uma luz ao fundo do túnel. Passado sete segundos, eles tinham chegado. Ao emergiram à superfície as bolhas rebentaram e Troy ficou maravilhado com o que viu.
- Não é fantástico? - perguntou Axel.
     Eles tinham à frente dos seus olhos uma gruta feita de cristal e pedras brilhantes que reluzia a luz vinda dum óculo duma enorme cúpula de vidro. A cúpula fundia-se nos cristais, fazendo parte então daquela manifestação da natureza. A luz reflectida nos cristais e na água parecia completamente irreal. Era tão belo que Troy mal podia acreditar que um lugar destes podia realmente existir. Um passarinho colorido entrou pelo óculo, pousou elegantemente num dos cristais e começou a cantar. Troy fechou os olhos a saborear o canto e desejou que o tempo parasse ali pois nada podia ser mais perfeito que aquilo. 


◄◊► 




     Um véu ardente pairava sobre o acampamento de Kade. O calor invadiu o espaço e o sono fazia-se sentir. No entanto, todos se juntaram ao pé da fogueira para comer. Pierre apareceu para comer. Troy mal o tinha visto o dia todo e parecia ser um homem de poucas palavras e reservado. Porém, ele e Kade pareciam ser unha com carne pela maneira que falavam e agiam perto um do outro. Troy não tinha visto Pierre agir com alguém da maneira como age perto de Kade. 
     Axel e Rouge começaram a servir o jantar e durante o serviço foi difícil não reparar na relação de cão e gato que eles tinham. Troy tentou ao máximo não se rir por completo porque não gostaria nada de enfrentar o olhar felino da Rouge ou o olhar pesado do Axel. Ou até o chicote dela. Troy estremeceu ao lembrar-se da sensação de levar com aquele pedaço de couro nas costas. 
     Troy pegou no prato que Rouge lhe tinha passado com peixe, salada e metade dum pão. Surpreendentemente, tudo sabia bem. Ele virou-se para comentar algo com Ryan mas este tinha acabado de se levantar com o prato na mão. 
- Ryan, onde vais? 
- Está calor aqui. Vou comer noutro sítio - respondeu sem qualquer animo. Troy ia dizer-lhe para ficar mas Melody interceptou o seu olhar e disse: - Eu vou ter com ele. - Ao que Troy assentiu um pouco preocupado. 

     Ryan sentou-se num banco longo de madeira no final da ala direita. À sua frente estava a entrada para a floresta onde a areia se misturava com a terra e um gigante astro pairava sobre as copas das árvores. Estava, de facto, muito calor perto da fogueira e ali estava-se muito melhor. Mas... 
- Ryan? Posso? 
- Claro - ele chegou-se um pouco para o lado, de modo a existir espaço para os dois. 
     Houve um silêncio breve. 
- Está a ficar uma noite muito bonita - comentou Melody. 
- Sim, pois está. 
- Nunca te cheguei a agradecer pela ajuda que me deste ontem. Consegui lidar com o monstro duma vez por todas porque tu me... 
- O mérito é todo teu, Melody. Eu não fiz mais nada do que tomar um risco - disse, sem animo na voz.  
- E é por esse risco que estou agradecida. Portanto, obrigada - Melody sorriu-lhe, numa tentativa de animá-lo, sem efeito. 
     Ele encolheu os ombros. 
- Eu sei uma coisa ou outra acerca de monstros. Ainda bem que pude ajudar.  
- Como assim? 
- O quê? 
- Disseste que sabes uma coisa ou outra acerca de monstros. 
     Ryan olhou para o prato e sentiu-se enjoado. Colocou-o ao seu lado no banco e respirou fundo. Não sabia o que dizer à Melody. Devia contar-lhe o que aconteceu? Devia dizer-lhe que tinha alucinações? Não tinha certezas nenhumas e portanto quando abriu a boca, não se preocupou em filtrar os seus pensamentos. 
- Quando eu fiz onze anos foi-me diagnosticado cancro no estômago - Ryan fitou Melody de fininho e voltou a por o olhar nas mãos. - Como podes calcular, um miúdo de onze anos a sofrer de cancro não sonhava propriamente com arcos-íris e alegria. Mas depois superei esse cancro e como se a vida quisesse por-me ainda mais à prova, fui diagnosticado com cancro no cérebro. A partir daí acho que já nem gritava à noite por causa dum pesadelo. 
- Ryan, tu não precisas de contar-me isto. 
- Não faz mal - ele sorriu. - Deixa-me acabar. Vai ser melhor deitar isto cá para fora - suspirou. Melody achou que quando ele lhe contasse o que aconteceu a sua curiosidade iria ficar mais que saciada mas agora ela preferia deixá-la como está. Ainda assim, deixou-o acabar. - Nunca sonhei com um monstro ou algo do género. Acho que os sonhos retratavam a minha situação naquele momento porque o que era pior do que ter 14 anos e estar preso numa cama por não conseguir fazer coisas básicas? Penso que tenho meses em branco da minha vida porque simplesmente não me lembro do fiz... E o cancro é o meu monstro. Mas por um milagre, eu fiquei curado por completo. E mesmo assim, ainda há noites em que eu acordo todo suado por causa dum pesadelo. O cancro saiu de mim, mas eu não saí do cancro. 
- Não precisavas de me ter contado isso. Mas obrigada por confiares em mim... Finalmente. 
     Ele riu-se. Melody sorriu ao vê-lo levantar os cantos da boca. 
- Desculpa a minha atitude de estúpido no início. 
- Pois. Porque é eras assim comigo? - perguntou, com determinação. 
- Sinceramente, eu fiquei irritado contigo pela pergunta que tu me fizeste. Foste intrometida, admite - ele sorriu.
- Está bem, fui. 
- E para completar, ao ver que tu, a Violet e o Troy estavam a ficar demasiado próximos, eu fiquei com uma certa... inveja. Eu tinha acabado de chegar e de repente aparecem vocês as duas atrás do meu melhor amigo. Acho que é compreensível, não achas, Brown? 
- Primeiramente, não me chames pelo último nome. 
- Toquei num nervo? 
- Não abuses, Bennett.  
- Ooh - ele riu-se. Melody deu-lhe um empurrão com a mão. - Acho que Melody "Irritadiça" fica-te excelente. 
- Achas que sim, invejoso? - Ela ergueu uma sobrancelha. 
- Hum, talvez revoltada seja o termo correcto. 
- Revoltada!? - perguntou e deu-lhe leves empurrões no ombro. Ryan riu-se. 
- Vês? É o nome perfeito. 


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     Paleya iluminava a noite e dava vida a sombras curiosas. O vento levava mistérios que apenas o silêncio conseguia descodificar e mesmo esse admirava a obscuridade dum sussurro. Sussurro esse que decidiu o destino não só duma alma mas o de todas à sua volta, incluindo aquelas que já não passeavam entre os vivos. Assim sendo, as sombras juntaram-se numa só criando uma outra com vida. Essa sombra vislumbrou o brilho azul-esverdeado dos olhos dele e sugou do seu corpo a sua alma branca repondo no seu lugar a sua alma negra. O corpo de Troy caiu de joelhos e depois para o lado onde permaneceu de olhos fechados até a manhã nascer. Parte do seu ser voou para um mundo brilhante e calmo, onde se encontrou. A outra ficou a flutuar num mar negro e poderoso de onde ele nunca queria sair. E assim, a obscuridade venceu. 

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