Underneath #45

     Com as mãos em concha, Troy começou a soprar e o seu hálito arrefeceu criando formas dançantes em torno das suas mãos. Essas formas flutuaram até aos cantos mais escuros da sua mente e tornaram-se numa luz que lhe mostrou um caminho. Troy, ao mesmo tempo que sentia a Escuridão a caminhar pela sua pele, sentia a Luz a tentar libertar-se. Ele não pensava que fosse resultar mas ainda bem que resultou e ao andar pelo caminho iluminado por uma fraca luz branca, Troy viu-se rodeado pelas suas memórias e percebeu que o Saeva nunca lhe poderia tirar o que já era seu. As suas memórias e os seus sentimentos eram isso mesmo, seus, e enquanto ele as tivesse, estaria tudo bem. O som do batimento do seu coração ecoava cada vez com mais força e ele sentia o seu próprio corpo a puxá-lo de volta para o controlo. As imagens dançantes no fundo negro forneciam-lhe energia que até naquele momento não sabia que precisava e por instantes, Saeva era absolutamente nada. A Estrela Vital estava a colher o poder que era somente seu e o seu inimigo não iria ter chance alguma. 


◄◊►



     Sol não conseguia fechar os olhos por muito cansado que estivesse. O sono estava a martelar-lhe a cabeça mas os olhos não cediam. Tinha a mente em constante movimento e queria estar desperto quando as gémeas acordassem. Queria confortá-las, falar com elas e ajudá-las. Queria certificar-lhes que tudo o que aconteceu ao Troy não foi por culpa delas e que fizeram tudo e mais alguma coisa ao seu alcance. Mas, acima de tudo, queria pedir-lhes desculpa por lhes ter falhado. Deveria tê-las protegido e ido ao seu socorro quando aprenderam a ultrapassar a fronteira entre Lymph e a Via Láctea. Deveria ter ajudado Troy como elas tanto pediram. Nem devia ter ponderado em ficar parado. Sol sentiu uma versão minúscula da dor que seria perdê-las e isso era suficiente para assegurar-se que nunca as deixaria desprotegidas de novo. 
      Violet e Melody estavam agora a dormir com a primeira de costas para a última. Luna estava na cozinha com Jade e se se concentrasse conseguiria ouvir as suas vozes. Leslie e Cosmo estavam a dormir no fundo de cama e o único som era o ronronar. Malmequer estava entre as gémeas. Sol colocou a mão no rosto apoiando a cabeça com o braço direito. Olhou para as suas meninas com ternura nos olhos. Pareciam tão em paz. O cabelo que só ondulava ao chegar às pontas caía-lhes pelo pescoço indo parar ao ombro até se enrolarem por baixo dos cobertores. As duas, pelo que Luna dizia, tinham o seu nariz mas ele não achava. Pelo menos não totalmente. Eram direitos, de facto, como o dele, mas a ponta lembrava-lhe muito à de Luna apesar de não ser tão redondinha. As suas filhas eram uma mistura de ambos e agora, os seus tons de pele estavam a tornar-se mais morenos assemelhando-se mais à dele. As raparigas Brown tinham o hábito de se assemelharem aos pais. Os seus olhos âmbar-azulados também estavam a ficar mais fortes. As duas tinham ficado dois dias fora pelo calendário da Terra mas nas duas semanas que passaram em Lymph, Sol notou significativas mudanças. O cabelo tinha crescido e aclarado e mal se notava diferenças de tons, a pele ganhara mais cor bem como um rosado subtil de um escaldão. Elas tinham mudado mas continuavam as mesmas. Pelo menos era o que ele esperava. 
- Pai? - Violet virou-se inspirando fundo. 
     Sol tinha-se perdido nos seus pensamentos que nem notou que Violet tinha acordado. Malmequer virou-se para o outro lado ainda a dormir. 
- Dormiste bem? - tirou-lhe o cabelo do rosto. 
- Sim - ambos se sentaram na cama. - Estou a morrer de fome - murmurou num tom de voz fraco e rouco enquanto se espreguiçava. 
- A mãe e a Jade estão a fazer o jantar. 
     Violet só então sentiu o cheiro a vegetais grelhados e frango a entrar pela porta do quarto entreaberta. 
- O nosso favorito - disse, contente. 
     Sol sorriu mas logo tirou o sorriso do rosto ao ver a expressão de Violet mudar drasticamente. 
- O que foi? 
- O Troy... - e como se algo lhe tivesse atingido, colocou a mão na testa tentando controlar a dor. - Ele... 
- Tem calma, Vi... Nós vamos ajudá-lo - disse-lhe. 
- Ele ainda está em Lymph? Se ele continuar lá o Saeva vai derrotá-lo! 
     O tom de voz de Violet atordoou os gatos fazendo o ronronar desaparecer. 
- Não vai nada - Sol agarrou a mão dela e acariciou o seu rosto. - Ele não te prometeu? 
     Violet fitou o pai confusa.
- Como sabes isso? - Soube logo a resposta. - Melody. 
- Tu viste-o em acção melhor que eu. Achas que ele é capaz de derrotar o Saeva? 
- Sim. 
- Ele prometeu fazê-lo? 
- Sim. Mas...
- Mas nada, Violet. O Troy vai fazer o que prometeu. 
- Como tens tanta certeza? 
- Porque ele prometeu-te a ti, à Melody, ao Ryan. Ele prometeu-vos. E vocês são a luz dele e é essa luz que ele precisa para derrotar o Saeva. Ele salvou-vos e agora vai salvar-se a si próprio. 
      Violet assimilou o que o pai disse. Ele tinha razão como a maioria das vezes. Tal e qual a Melody. Se fosse ela no lugar do pai provavelmente teria dito a mesma coisa só que com mais sarcasmo. Ela sorriu para tirar o olhar preocupado do rosto do pai e pegou em Malmequer. A gata parda era a sua favorita e bem como ela própria, tinha ganho o nome a seguir a uma flor. 
- Qual de nós vai acordar a Melody? 
- Que tal irmos chamar a tua mãe? 
- Boa tentativa - resmungou ela a tirar o cabelo da vista. - Vocês falam tão alto. 
- Jantar! - ouviram a mãe gritar do final das escadas. 
- Estou esfomeada - disse Melody. 
- Dormiste bem? - perguntou-lhe a irmã, deitando-se outra vez junto dela. 
- Mais ou menos. Quero mesmo dormir mais. 
- Vamos? - disse Sol já ao pé da porta. 
- Não - responderam em uníssono, colocando-se debaixo dos lençóis. Malmequer saltou da cama. 
- Vão obrigar-me a ir buscar-vos? 
      Ambas deixaram-se estar, desafiando o pai. Ele sorriu, aceitando o desafio, e foi com uma velocidade tal para a cama, saltando para cima dela e fazendo cócegas às gémeas pelo cobertor. As duas contorceram-se debaixo dele, rindo e tentando contra-atacar. Sol conseguiu destapá-las e pegou nelas, colocando-as em cima dos seus ombros. Violet e Melody espernearam-se e Sol pousou-as no chão. 
     As gémeas, ajeitaram o pijama e o cabelo enquanto tentavam recuperar o fôlego de tanto rir. 
- A comida vai ficar fria! - gritou Luna das escadas. 
- Estamos a ir - disseram elas, atravessando o quarto e parando a meio do corredor. 
- Não vens? - perguntou Violet ao ver o pai parado. 
- Claro. 



◄◊►



- Mãe, acho que vou ficar a dormir na casa dos Evans, pode ser? 
- Catarina! Dizes-me isso a estas horas? Porque é que vais ficar aí a dormir? 
- O Troy magoou-se e gostava de ficar cá hoje. 
     A mãe suspirou. Catarina já estava a pressentir a voz dela a subir de volume pelo telefone e ficou surpreendida e aliviada quando ela não o fez. 
- Eu acho que não devias estar ao pé dele. Vocês não acabaram?
- Oh mãe, sim... não... não sei - disse, com a voz a falhar-lhe um pouco. - Posso ficar cá ou não? 
- Podes... - suspirou. - Na condição que vens logo para casa de manhã e almoças comigo. 
- Tudo bem, obrigada. 
- Pronto, até amanhã, beijinhos. Dá as melhoras ao Troy. 
- Está bem, beijinhos. 
     Catarina desligou a chamada e deitou-se na cama do seu namorado. Parte de si não queria estar ali mas outra não conseguia imaginar melhor local. O ar cheirava a menta e a mar, um misto de frescura e conforto que Catarina adorava. Ouviu alguém a caminhar pelo corredor e ficou a olhar para a porta à espera de ver Charlotte com comida num tabuleiro. Há vinte minutos atrás tinha-lhe dito que não tinha estômago para jantar algum e mesmo assim tinha-a ouvido a mexer nas panelas e a dizer ao Steve que lhe fosse buscar massa numa prateleira alta do armário. Quando a porta se abriu, viu a pessoa menos esperada, ou melhor, pessoas - Mercúrio e Urano. Este último tinha um sorriso largo no rosto enquanto que o primeiro parecia bastante aborrecido. 
- O que é que... - murmurou ao sentar-se. 
- Precisamos de alguém que saiba tratar de cães. 
- Não íamos à praia? - disse Mercúrio a cruzar os braços. 
     Antes de poder dizer alguma coisa, Mercúrio e Urano aproximaram-se dela e o último gritou: 
- Ela vem connosco! Já voltamos para o jantar! 
      E uma luz roxa envolveu o trio levando-os até ao minúsculo apartamento de Urano. 

- Isto não é um cão. 
     Urano aproximou-se tentando assegurar ao animal que não pretendia perigo algum. Mercúrio encostou-se à ombreira da porta com um sorriso matreiro de braços cruzados. O animal, com os olhos castanhos ferozes rosnou e se não fosse Catarina a intervir, Urano teria sido mordido. 
- Onde é que vocês o encontraram? 
- É uma menina - disse Mercúrio. 
- Estava a dormir junto a uma árvore perto da biblioteca em que o Troy tinha estado. Provavelmente de guarda. 
- Quer dizer que o Troy conhecia-a? 
- Tudo indica que sim. E com o Qaya portou-se lindamente.  
- Porque o trouxeram? - perguntou, virando-se para fitá-los. 
     Mercúrio lançou um olhar para Urano, como se estivesse à espera da resposta também. 
- Achei-a engraçada. Não a ia deixar abandonada numa biblioteca. 
- Como bem disseste, ela dá-se bem com o Qaya. Ele podia ficar com ela. Para além do mais, não tens assim muito espaço para um animal deste tamanho. 
    Catarina aproximou-se do grande animal de pêlo castanho, creme e branco. Primeiramente, rosnou ao vê-la aproximar-se mas, em seguida, algo nele mudou e ao farejá-la, o animal tornou-se completamente dócil. Catarina tacteou-o desde o focinho até ao pescoço, acariciando o seu pêlo longo e forte. Cheirava a esgotos e chá e o pêlo estava sujo. 
- Linda menina - sorriu. - Precisa de um banho - disse aos Planetas. 
- Pois. Talvez a piscina do vizinho - sugeriu Urano. 
- Não percebo como moras neste cubículo - comentou ela.
     O apartamento de duas divisões não tinha decoração alguma sem ser dois quadros de paisagens escuras e sem qualquer brilho. A mesa junto ao sofá rasgado tinha uma grossa camada de pó, bem como o balcão da cozinha. Se fosse espreitar, Catarina tinha a certeza que nada haveria nos armários.
- Achas mesmo que eu moro aqui? Eu mal uso uma casa terrestre. Esta é somente para alguma emergência. 
- Não tens casa? 
- Tenho a melhor mansão de todos os tempos no meu Planeta. Não preciso de perder tempo com os serviços terrestres. Aliás, o ar da Terra tem ficado insuportável. Não sei como a Jade aguenta. 
- Queres dizer, por causa do aquecimento global? 
- E não só. Sinceramente, estou admirado que a Jade não tenha causado um terramoto enorme para acabar com a quantidade de fabricantes de poluição deste Planeta. 
- O que estás para aí a dizer? - ralhou Mercúrio, num tom cansado. - Sabes perfeitamente que fazer isso era matar milhares de humanos e...
- Mercúrio, a única coisa que os humanos sabem fazer bem é reproduzirem-se - ripostou o sétimo Planeta. - Parecem coelhos. O que não ia faltar era população para preencher o lugar dos mortos.  
- Ei... podiam...
- Achas que isso é justificação? - a voz de Mercúrio sobrepôs-se à dela. - Pensas que destroços como aqueles podiam...  
- EI! - gritou Catarina. 
- O que foi?!  
- Olhem lá para a fora e digam-me que o céu não está a ficar completamente negro. Mesmo, mesmo negro. 
     O animal virou-se para junto de Catarina, deixando pouco espaço até à janela. Mercúrio teve de ficar atrás de Úrano. Os três observaram, surpreendidos, o céu que tornava-se a cada segundo que passava mais escuro, deixando as nuvens num tom de cinzento. Em poucos segundos, o trio viu o céu tingir-se de um tom tão negro quanto a tinta e quando Catarina deu por isso estava na cozinha dos Brown. 


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- Vamos fazer isto à minha maneira ou não, Troy? 
     A voz dele ecoou no escuro e a chama branca tremeu. As imagens à sua volta desapareceram e Troy sentiu um peso sobre o corpo que o puxava para baixo. As batidas do seu coração aumentarem ecoando pela sua mente como uma música de fundo. Troy nada disse. 
- Sabes onde estamos? - Silêncio. - Muito bem. Estamos no Sistema Solar, e mais especificamente, no Planeta Azul - ele apareceu das sombras, rodopiando o seu corpo à volta de Troy. - E sabes o que está a acontecer? Estou a tapar a luz do Sol com uma espessa camada negra que vai deslumbrar a mente das pessoas. 
- O que pensas ganhar com isto? 
- Penso ganhar o poder do Sistema Solar. Terra virá atrás de mim, bem como Sol e a representação da Lua. Os outros Planetas aparecerão e acabarei com eles todos de uma vez só. Quando completares dezassete anos, Troy, terás alcançado mais do que o Tema alguém vez conseguiu. 
- Na Terra faltam mais de duas semanas para o meu aniversário. Só me estás a ajudar, Saeva. 
     Os olhos brancos de Saeva brilharam.
- Se fosses capaz de te libertar, já o terias feito, Alexander - contrapôs. - E se o conseguires, quem vai pagar caro são os teus preciosos amigos. 
- Isso já não me assusta - e realmente não o assustava. 
- Veremos - e desapareceu.
     Troy respirou fundo e fechou os olhos e a luz branca tremeu. Levantou a mão e apagou a chama. O peso nos seus ombros tornou-se mais forte e mais forte... O chão tornou-se mais fino até rachar como gelo e Troy deixou-se cair. Os seus olhos abriram-se e por instantes viu o céu negro como petróleo e antes que pudesse evitá-lo, Saeva puxou-o de novo para os confins da sua mente com fios cortantes e grossos que lhe cortaram a pele. O ar arrefeceu e a subir pelos seus braços, Troy sentiu a Escuridão a penetrar-se-lhe no corpo de novo. E ao tentar libertar-se, das suas feridas saiu luz branca que revitalizaram a sua vontade. Ele não podia falhar, Troy tinha de ver o que se passava. Os fios puxavam-no com uma força incrível mas com a adrenalina a correr pelo seu corpo, Troy lutou com ainda mais força sem sentir os danos causados pela Escuridão e com um último esforço, a Estrela recuperou o seu corpo por momentos. 
     Estava na grande estrada, junto à praia, onde o passeio tinha palmeiras altas, completamente vazia e atrás de si, o som das ondas acalmou os seus sentidos. Virou-se e tudo o que viu foi um céu tão negro que apenas algumas nuvens se destacavam. O sol era uma bola quase imperceptível.  Não havia sinal de vivalma na rua ou na praia. O ar gélido moveu o seu cabelo loiro e fez os cortes nos seus braços finalmente atingi-lo com dor. Ele viu Saeva voar como uma mancha por cima de si, voando em direcção à casa dos Brown. 
     Troy começou a correr até ao bar dos pais em busca duma bicicleta. Ao ver que não conseguia abrir a porta dos fundos, Troy desatou a correr até à casa deles. Queria avisá-los ou pedir ajuda. Virou à esquina e sentia o corpo a falhar completamente. Os braços doíam-lhe cada vez mais e as pernas começaram a ficar bambas. Continuou a correr, e a correr, e a correr, o mais rápido que conseguia. Tinha suor a descer-lhe pela testa e não conseguia perceber como ainda estava tão longe. Continuou a correr, e a correr, e a correr. Troy virou outra esquina, seguindo sempre em frente, esperando que o mato não estivesse muito mais longe. As suas pernas estavam a falhar e a sua respiração estava acelerada. Troy continuou a correr, e a correr, e a... Ele tombou no chão, caindo de joelhos, não rasgando as calças por pouco. O chão áspero feriu-lhe as mãos e Troy mal conseguia aguentar o batimento acelerado do seu coração. Os seus olhos nada viam a não ser imagens desfocadas e tontas. 
- Precisas de mim, Troy? - ouviu Saeva dizer e antes que pudesse levantar-se, o monstro tomou-o para si de novo. - Precisas de mim, Troy - e Troy desmaiou. 



◄◊►



- Não consigo acreditar nisto - disse Sol, de cabisbaixo. - Está tudo a acontecer de novo. 
     Luna atou-lhe a manga de couro direita que ia até a meio do seu antebraço. Fez um nó forte e em seguida acariciou a mão do seu marido. Sol colocou a mão no rosto dela e Luna agarrou-a, colocando uma sua no rosto dele de modo a levantá-lo. Luna fitou-o. Nunca o tinha visto tão cansado. Ou desiludido. 
- Vai correr tudo bem. 
- Da última vez não correu. 
- Estamos mais experientes agora e somos mais. A Terra disse-me que o Sam e o Neptuno querem ajudar-nos. O Saeva não vai conseguir lutar o Sistema inteiro - disse ela. Sol não tinha a certeza se ela própria acreditava no que dizia. 
- Luna... 
- Não podemos falhar, Sol. Temos demasiado em risco - as palavras sérias dela vieram num tom calmo e suave. 
- Elas vão querer lutar connosco. 
- Eu sei. E eu quero que elas venham. Assim como o rapaz. 
- Luna!? - Sol franziu o sobrolho e levantou-se, afastando-se dela.
- Se os miúdos são a luz do Troy, que escolha temos? - disse enquanto o via andar de um lado para o outro. - Ele não vai magoá-los - adicionou. - Se tivermos sorte, ele até consegue libertar-se de vez. 
- Queres correr esse risco? 
- Eu consigo escudá-las. 
- Isso não me deixa mais descansado - admitiu. - Especialmente se vais lutar a meu lado. 
- Então o que queres fazer? Trancá-las no seu quarto? 
- Não sei, Luna. Não sei - passou a mão pelo cabelo claro. 
     Luna levantou-se e agarrou na mão dele. O toque dela acalmou-o logo. 
- Desculpa - pediu ele. - Não quero que elas corram perigo de novo. 
- Eu também não quero. Mas elas vão sair desta casa prontas para lutar com ou sem a nossa permissão. 
 - Também não te posso perder - desviou o assunto.
- Vais trancar-me num quarto? - murmurou, com o rosto encostado ao dele, de olhos fechados.
    Ele riu-se. Sol inclinou-se e levou os seus lábios aos dela num beijo meigo. 
- Independentemente do que aconteça - sussurrou. 
- Vocês estão mesmo a namorar neste momento? - disse Violet, com a mão na anca. 
     Os dois viraram o olhar para a filha e ficaram abismados com a semelhança. 
- Ela parece a... 
- Vénus - terminou Luna. 
- A Jade disse que sentiu o Troy - disse. - Vêm? - perguntou, ignorando a comparação que os pais fizeram. 
- Vamos já - respondeu a mãe, largando-se dos braços do marido. 
     Violet saiu do quarto e desceu as escadas. Luna tirou a adaga esquecida por quase vinte anos da gaveta e entregou-a ao seu Tal. Sol não queria acreditar no que estava a acontecer naquele momento. Aquela adaga representa o seu falhanço e mais uma vez ia ele lutar numa batalha que nunca fora ele o vencedor. Aquela adaga representa o seu passado e agora, este repetia-se. Se este ciclo não terminasse de uma vez por todas hoje, Sol terá falhado por completo a sua galáxia. 
     Ele respirou fundo e embainhou a adaga. Luna deu um beijo na bochecha dele e os dois desceram as escadas sem saber exactamente aquilo que o futuro lhes reservava mas acima de tudo esperando pelo melhor. 

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